
para Rodrigo de Souza Leão
(04/11/1965 - 02/07/2009)
1 – TOP SECRET
O poeta trazia um chip escondido no corpo.
Aos 23 soube que era rastreado –
numa sala escura um monitor Toshiba
piscava uma luz verde que era ele:
se súbito virasse à esquerda
e corresse até o tênis acabar eles saberiam.
Mergulhar por dias em piscina, de escafandro,
ou enfiar o dedo na tomada não adiantava –
era a prova d’água, imune ao curto-circuito.
A luz continuaria piscando, indicando
aos agentes que ele estava onde estava.
Com a faca arrancá-lo seria em vão.
Outro seria posto no lugar do primeiro –
à noite, pelo pai; ou num ato violento por eles.
Novamente internado, voltaria
com a tecnologia re-implantada –
up grade da versão dois ponto zero,
mais moderna, com sinal via satélite.
2 – Fuga e outros movimentos
Certo dia, perseguido por todos,
desceu correndo os treze andares da CEF,
contando cuidadosamente cada degrau.
(Diante do impasse, quase voltou para conferir)
Os macacos em seu encalço
– mordendo o calcanhar do tênis Nike –
seria uma prévia de tantas outras perseguições.
(Análogas às exibidas na Sessão da Tarde)
Aquele era o momento de lamentar não ter fu-
gido com Rimbaud – companheiro de manicômio
onde trocavam figurinhas do time do Flamengo.
(Álbum Campeonato Brasileiro, 1989)
3 – Necrológio
Acordou vinte anos depois
– ressaqueado de Haldol –
seu nome inscrito no obituário.
Levantou da cama
– a hora havia chegado –
e comunicou a todos que iria morrer.
Acordou vinte anos depois
– ressaqueado de Haldol –
seu nome inscrito no obituário.
Levantou da cama
– a hora havia chegado –
e comunicou a todos que iria morrer.
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