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Que
ninguém lê poesia é uma certeza que temos. Basta notar a baixa visualização nos
contadores de visitas nos blogs dedicados a poesia, sobretudo em blogs
autorais, onde poetas “sem nome” postam os seus versos. Talvez essa realidade
se repita também em blogs dedicados a poetas consagrados, que já atingiram o
patamar de medalhões e são tratados como cânone... mas sobre isso, não sei
precisar.
Também
chama a atenção as baixas tiragens em publicações do estilo: é comum edições de
200 exemplares, havendo editoras que publicam sobre demanda, imprimindo 50
(cinquenta!) exemplares!
Basta
lembrar que vivemos em um país que atualmente passa de 208 milhões de
habitantes para percebermos que uma tiragem de duzentos exemplares é ridícula! Agora,
imagine o quão ridícula é uma edição de 50 exemplares! É o número aproximado de
pessoas dentro de um ônibus, sacolejando pelas ruas da cidade.
Interessante
imaginar que muitos desses poetas possuem cinco mil “amigos” no facebook,
alguns milhares de seguidores no twitter e ainda “militam” em outras redes
sociais com outras centenas de seguidores! Eu, por exemplo.
Muitos
teóricos (tanto diplomados quanto de botequim) vivem levantando questões
relacionadas a esse panorama desesperador, apontando muitas razões e indicando
estratégias para contornar o quadro:
falam
que há mais poetas que leitores;
alegam
que há anos não existe política de incentivo à criação de novos leitores (talvez
nunca tenha havido uma política efetiva nessa área!);
discorrem
que a poesia – ela mesma – é a culpada por ser indiferente ao mundo real, se
limitando, na maioria das vezes, a ficar entrincheirada em uma torre de marfim;
discorrem
que a culpa é da poesia (coitado da poesia!) que aposta no hermetismo em um
mundo de muitos analfabetos e de carência astronômica em interpretação de texto;
tem
até mesmo aqueles que dizem que a culpa é do poeta (“feto malsão, criado com os
sucos de um leite mau”) que em sua torre de marfim se apoia na metáfora mais
complexa e nas citações mais obscuras (para se supor elevado/intelectual); ou
em sua torre de marfim o poeta (“carnívoro asqueroso”) deseja ser difícil, rigorosamente
abstrato, entregue a jogos criativos de palavras que só conseguem interessar os
versados em linguística, os doutores em gramática e os especialistas em línguas
mortas;
apontam
que não há poesia contemporânea (a poesia feita agora mesmo) nos livros
didáticos –livros esses que ainda dedicam parte significativa de suas páginas
ao barroco, ao arcadismo e ao parnasianismo (que vem ser estudados, mas não só);
muitos
acreditam que falta espaço na mídia tradicional; que falta investimento em
marketing por parte de editores; que é necessário ampliar os canais de divulgação,
com campanhas mais ferozes de convencimento (como se faz com facas ginsu,
limpadores multiuso e whey protein);
dizem,
entre tantas outras coisas, que o livro é caro num país quebrado (ainda que
muitos gastem rios de dinheiro com academias, bailes, boates e cremes
milagrosos para a pele rugosa do cotovelo); dizem que a vida hiperconectada é
apressada e a concorrência com os jogos eletrônicos, TVs a cabo e pornografia
abundante & gratuita é desleal... O que resume tudo a uma questão de
prioridades.
É
uma questão complexa e obviamente há exceções: alguém deve estar encontrando
público e conseguindo ser lido por um grupo maior, vendendo além dos três
dígitos. Deve haver alguém em sua torre de marfim sendo ouvido por uma centena
de milhares de iniciados e algumas centenas de incautos. Deve haver alguém fazendo
poesia – rimada, ou não; complexa ou não – e conseguindo pagar pelo menos o
aluguel com os dividendos conquistados com a escrita dos versos.
É
uma questão complexa e o problema possivelmente está em todos os tópicos
listados nesse texto e mais em outra dezena de possibilidades que me escapam
agora.
2
Que
ninguém lê poesia é uma certeza que temos. E quando leem não deixam rastros.
Recentemente, me surpreendi conferindo o contador de visitas em um blog
coletivo que participei, o Poema Dia. Notei que a média de visualizações em
algumas postagens estava muito alta para o padrão: 600 visualizações no geral!
Porém, nenhum dos meus poemas, visualizados “tantas vezes”, tinha ao menos um
comentário.
Seiscentas
visitas é pouco, bem sabemos, sobretudo se recordarmos a dimensão populacional
do Brasil, como mencionado na primeira parte desse texto: vivemos no quinto país
mais populoso do mundo, com 208.846.892 habitantes! Seiscentas visualizações (em
três anos!) não é nada, não representando nem a ponta da ponta do iceberg das
possibilidades. Ressalto: por menor que seja esse número, a nulidade nos comentários
é surpreendentemente desanimadora. Quando leem, como disse, não deixam rastros.
Hoje,
mais uma vez me surpreendi: descobri, em outro blog coletivo, chamado Manufatura,
que uma postagem minha de 2016 tinha conquistado a atenção de 14923 pessoas. O
poema se chama “Essas Palavras Murmuradas na Varanda”, título que tirei do
Romanceiro da Inconfidência, da Cecília Meireles.
Imaginei
que por conta dos algoritmos, o nome da poeta e do seu célebre – e, ao meu ver,
excelente – livro, atraiu os desavisados que chegaram navegando em busca de uma
coisa e encontraram outra: e já que estavam ali, leram o meu poema. Leram e
foram embora, sem deixar pegadas: foram 14923 visualizações e nenhum comentário
sequer. Nem um!
Conferi
outras postagens no blog Manufatura: muitas apresentavam menos de 20 visualizações,
outras com poucas centenas de visitas e outras postagens com visitações
astronômicas superiores a 15 mil. Em comum, essas postagens tinham algo: nenhum
comentário (ou, quando muito, cinco ou seis balbucios elogiosos). No geral, a
grande maioria dos poemas estava relegada ao silêncio.
Ficaram
guardados ali, sem serem lidos, sem despertarem qualquer comentário: nada de
reclamações, de críticas (de qualquer espécie) ou de emoticons de coraçãozinho.
3
Não
que o valor de um poema deva ser medido pela quantidade de leitores. De forma
alguma acredito que o valor de um poema (ou de um livro de poemas) esteja
ligado ao número de exemplares vendidos ou ao número de likes e retuítes. Basta
ver os best-sellers do momento que vendem milhões de exemplares, angariam multidões
de seguidores (ou seguimores), e têm muitas vezes qualidade literária duvidosa.
O
problema é outro. O problema é o fato de o poeta escrever em um mundo de poucos
leitores (sobretudo de leitores de poesia), um mundo de mínimas possibilidades
de publicação e praticamente nenhum incentivo. E não entendam “incentivo” como
um tapinha nas costas, um elogio vazio do tipo: “muito bom”, “arrasou”,
“lacrou”, “continue assim”, “<3 o:p="">