Os meninos cogitaram acordá-lo
a p e d r a d as
– típica cena bíblica de expurgo
Se limitaram a cutucá-lo com uma vara
Como não respondia
decidiram consultar um adulto
(no meio do caminho foram
seduzidos por um enorme
letreiro da Texaco)
Era preciso datar e catalogar as invasões bárbaras Descrever os saques, as pilhagens, fotografar o campo em chamas para delimitar novas fronteiras – esse meu mundo, sempre diminuindo! Ao norte, os planos vêm montados em asas de corvos O oeste, silente, se arma O sul, em marcha, rompe a campina próxima Uma gota de caos encharca o leste Perigo rondando Sempre Era preciso eternizar minhas mazelas, pois elas extravasam os limites de minha mente, e eis que meu corpo é muito pequeno para contê-las
7 comentários:
Nolli, poderia ser um animal, um mendigo, uma pessoa.
Tão explicitamente cruel, tão explicitamente belo.
O letreiro luminoso é muito mais importante, o outro que se dane.
Beijo
cena de expurgo: e a texaco, maravilhosamente pérfida, a sorrir...
Adriana e Jorge, meus queridos amigos, gostei muito da interpretação de vocês. Em minha cabeça esse poema era claramente sobre "as crianças que sem mais o que fazer" decidiram por fogo no índio Galdino. Agora, todos que leram comentaram coisas diversas, perceberam outras possibilidades, outras nuances que me escaparam. Fico feliz com isso, já que julgava esse poema limitado. Não temos mesmo controle sobre a nossa criação, isso é ótimo! Abraços!
Nolli, a princípio pensei mesmo nesse caso e em outros tantos que acontecem por aí. E seu poema retrata de maneira muito intensa tudo isso.
É bom mesmo ver a leitura que as pessoas fazem de nossos textos, coisas que nem imaginávamos.
Beijo
Eu morava em Brasília nessa época da morte do Galdino. Verso incendiário.
A nossa criação é ilimitada, meu caro amigo! Vai por onde o poema quiser ir.
Mais abraços!
Jorge
Bom pra caramba esse aí Rafael!
Abraço
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