Para Heleno Álvares
1
tomemos
por exemplo um arqueólogo
que
descobre uma cidade submersa
&
em um infindável número de equívocos
interpreta
tudo errado
&
cria uma nova civilização
ou,
percebendo as possibilidades do erro
refaz
o mundo descoberto
para
a glória de outros visitantes,
perplexos
perdidos
entre as ruínas e o poema
2
(poesia = arqueologia)
cabe
ao poeta descobrir a palavra
que
passa rolando pelas cavernas do tempo
saber
colhê-las entre detritos
–
talvez o que há de melhor nelas –
ir
aonde descansam
&
instaurar o caos
3
fora
isso
o
poeta não passa do dono da festa
chapado
de ponche
que
desliga o som e manda todo mundo embora
ou o
dono da bola
que
acaba com o jogo ao ser driblado
ou
mandado para o banco
fora
isso
o
poeta só arranha a superfície
descobre
uma cidade submersa & grita
do
alto de sua glória (ou burrice):
“é
uma cidade submersa!”
20/01/2014
do livro Poemas é um péssimo título
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