Em 1988, eu tinha oito anos. Lembro como se fosse hoje de acompanhar pela tevê o naufrágio do Bateau Mouche.
É uma recordação que nunca me abandonou.
Depois, o caso do menino sírio, encontrado morto em uma
praia da Turquia - outra recordação difícil de apagar da memória.
Esse poema é sobre os dois casos.
Naufrágio
É novo, ou de pouco uso
o chinelo que a maré trouxe de volta
como atesta as suas cores intactas
O brilho da borracha reforça a teoria
O sal pouco fez contra a sua estrutura
O sol, tampouco
O azul do céu
ainda lhe parece um irmão caçula
Talvez o canal o tenha trazido
boiando em meio a toda sujeira
ou a chuva da madrugada
Chacoalhando na espuma
– a noite toda –
para ser devolvido às areias da praia
sem memória
misturado aos restos dos corais
Amanhã o outro pé, novinho
Depois o corpo do menino
l. rafael nolli
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