Não
pode haver pior momento
do
que encontrar o poeta escrevendo
sozinho
diante do computador
a
mesa de madeira manchada
coca-cola,
café, cocaína
e
uma pilha de livros
quase
todas roubados
espólios
da biblioteca municipal
um
enorme carimbo azul na folha de rosto
Não,
não há pior momento
Algum
glamour – romantismo tardio –
nos
tempos da máquina de escrever
em
uma sala mergulhada na penumbra
a
fumaça do cigarro subindo, até a lâmpada
Tomado
por uma tosse tuberculosa, tenebrosa
o
som das teclas, toc toc toc
sem
melodia possível
No
pintor há algo de vivo no ato da produção:
o
movimento do braço
a
pose – geralmente falsa – diante da tela
Chegar
de repente no ateliê
e
vê-lo diante de uma bela sereia
dona
de seios de curvas acentuadas
e
notar uma mancha azul
ainda
molhada, escorrendo no assoalho
Na
música também há algo de belo
(no
flagra da composição):
os
músicos dedilhando as cordas
procurando,
em meio a tantas notas, a provável
Talvez
role alguma cerveja – ou outro aditivo –
e
de repente se faça novos amigos
e
se consigo um afeto, uma foda
Com
o poeta não é uma boa hora
Não
há pior hora, nem pior programa
Talvez
algum que lhe equipare
(só
que não):
como
a reprise, na íntegra,
de
um 0 x 0
em
jogo sem importância
na
primeira rodada
do
Campeonato Estadual do Acre
*
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