quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Balada do Cárcere

andrzej jurczak


Ópera-rock sobre o Cárcere de Abaetetuba



3 – os detentos

Um cultivou o seu amor com agrotóxico,
enterrou o corpo na horta,
onde nunca mais nasceu couve.

Outro, em nome da honra da filha,
cortou o pinto do vizinho e jogou na rua
– ali, brincavam de varinha atrás.

Mais ao fundo, um unha-de-fome
que têm o estômago como mentor
intelectual de seus atos

– roubava supermercados
com a prudência de ser preso: nada lhe
era melhor que a comida sem sal do Estado.

Alguns, resignados, assumiram crimes alheios
afim de quitarem carnês de jogatina e tráfico:
confessaram uma degola, adotaram umas fraturas

– em sua maioria ritualísticos ladrões de galinha
e usuários recreativos de cola de sapateiro,
que não teriam mesmo outro lugar para irem.

Há aqueles que não possuem crime algum
senão terem nascidos inclinados ao soco,
atraídos pelo grito, propensos ao ódio.

Aqui o sol é o mesmo para todos,
e o interruptor o apaga.







*

24 comentários:

Anônimo disse...
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Bosco Ferreira disse...

Boa noite. Parabéns por mais um desafiador poema.

Anônimo disse...
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Sônia Marini disse...

Bela trilogia! Ácida, contundente... muito boa.
beijos

dade amorim disse...

Uma trágica e bela trilogia, Nolli. Grande abraço.

Anônimo disse...

sua poesia engajada tá cada vez mais sofisticada.. beijoss

Cecília Borges disse...

Gostei muito dos seus escritos, Rafael.

"senão terem nascidos inclinados ao soco,
atraídos pelo grito, propensos ao ódio"

Forte isso, bem forte.

Bjo!

Caim disse...

cara... sem duvida o melhor dos treis! esta de parabens nolli... Trilogia magnifica! grande abraço...

Anônimo disse...

Depois de tanto tempo, foi com raro prazer que reencontrei seus versos, com sua beleza crua, trágica e atual.

"Aquí o sol é o mesmo para todos,
e o interruptor o apaga."

A lírica crueza destes versos provoca arrepios, misto de horror pela realidade e prazer estético.

Grande abraço.

Héber Sales disse...

tá ficando interessante
aquele abraço!

Anônimo disse...
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Maria disse...

Òpera-rock...soul !!!

beijos

Anônimo disse...

Pois é...é estranho como nossa sociadede se habitua a tudo por medo e egoísmo.
Mas ao menos é bom saber q aquela de "..a nossa indignação é uma mosca sem asas, não ultrapassa as janelas de nossas casas." Não vale pra todo mundo...
Muito bom!Abraço Seu Nolli!!
H Samsa.

Samantha Abreu disse...

Tem algo escondido por trás de tudo.
A denúncia versus a doçura, a compaixão.
Existem tantos tipos de dores... e tanta opções - contraditoriamente - impostas.
Ninguém escolhe ser infeliz. Simplesmente somos. Eu acho.
Escolhe-se, sim, o crime, mas o que o motiva está muito além das mãos. É coisa de alma.

Tô adorando essa 'balada'.
Um beijO!

octavio roggiero neto disse...

fala, poeta, tudo bem?
escrevi dia desses pra Loba, mas até agora nada. alguma novidade sobre o nosso Trilhas?
até!

Anônimo disse...
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Sônia Marini disse...

Menino...vc anda mais sumido do que eu!rs
bjos

Anônimo disse...

Nolli, estou acompanhando seu Balada do Carcere, ótimo poema, gostei muito deste (3).
abraço

Maria disse...

amei a prosa sobre o amor lá no diverso e afins !!!

Anônimo disse...
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Unknown disse...

Nollim coloquei um poema seu lá no meu blog para ilustrar um texto. Aparece por lá tb. Um abraço
Quanto sangue aqui!!!! Gostei.
Elenilson
http://orebate-elenilsonnascimento.blogspot.com/

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...

rafael, li você no Trilhas, cara. parabens. e agora estou lendo essa parte da ópera aqui 'os detentos'. muito bom, rapaz! sem demagogia. e digo mais, quem sabe, com essa sua linguagem, ficaria melhor se fosse prosa pura, tipo um conto mesmo. mas, enfim...

mais uma vez parabens e abraço.

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