terça-feira, 19 de março de 2013

Poema

 XXXII
    12/06/03
                  
Enquanto estronda a guerra fora e a fúria desordenada salpica granadas e testículos, enquanto a barbárie ressoa fora e o ódio desmedido esquarteja canhões e homens, eu sento e escrevo o seu nome.

Grifo-o, em alto-relevo, para os que não podem ver; grito-o, em altas palavras, para os que não podem tocar.

Enquanto despejam a guerra fora e a angústia desenfreada alicerça fronteiras, enquanto a desavença ceifa moradas e moradores, eu sento e escrevo o seu nome.

Risco-o, na areia, para os que estão de passagem; selo-o, nas estrelas, para os que não têm pressa.

Enquanto vou escrevendo seu nome, a guerra fora intenta endurecer meu pobre coração; enquanto vou escrevendo o seu nome, a guerra que se avoluma arranha a minha porta.

O seu nome eu risco na semente, para os que estão por vir; cravo-o nos olhos dos mortos, para que os mortos possam lembrá-lo sempre.

Enquanto fortificam a guerra fora e a dor sem fim dinamita povos e populações, eu sento e escrevo o seu nome: e ele é uma trincheira que cavo na noite escura, uma barricada que ergo.

E vou fazendo até que não conseguirei suportar mais a fome e passe a correr Coca-Cola em minhas veias.



* do livro Memórias à Beira de um Estopim