quinta-feira, 30 de abril de 2015

23 h 56 min e 4,09 seg

Para Érico Baymma

1
dias ruins
por coisas pequenas
quase-nada
pingo no i na letra errada
tropeço no cadarço desamarrado

dias ruins
por grandes problemas
estouro de boiada
um caminhão entalado bloqueando a paisagem
azia no banqueta das musas

dias ruins
por bobagens corriqueiras
coisas banais
azar no jogo
– dardo, RPG, carta –
ter que repetir a frase
(quando não se disse nada)

2
dias bons
por coisas pequenas
ou por nada
um sorriso (alado)
um pássaro pousado no retrovisor do carro

(ou por qualquer coisa fugaz rápida
como a queda de um meteorito
o bote de uma naja)

dias bons
por coisas grandiosas
que tomaram tempo
& cansaram o espelho
que consumiram a tinta do calendário

dias bons
por coisas improváveis inesperadas imprevistas:
encontrar um novo amor
ao pegar o caminho errado

(ficar perdido

até ter que mudar de casa)








* do livro Poemas é um péssimo título (para um livro de poemas)

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Cidade dos sonhos



Antes do amanhecer
estarão tomando a praça central.

A imensa cavalaria
sedenta pelos jardins,

arqueiros posicionados
no alto das colinas,

a infantaria
dinamitando as pontes.

Pé ante pé, rua a rua,
as posições sendo tomadas.

No entanto,
antes que declarem o seu triunfo,

um golpe decisivo dissolve o inimigo.
Abro os olhos: acordar basta.

2
Um dia a guerra estará perdida
e o povo daquela cidade,
que só existe em meus sonhos,
ficará entregue a própria sorte.

Um dia, quando eu não acordar mais,
a cidade se extinguirá
com todos que por lá transitam,
ou eles migrarão para outros sonhos?

Quem sabe, enfim,
esse seja o dia em que terei que defendê-la
de corpo presente, com as próprias mãos...

3

Saberei eu no sonho de quem?



*
do livro Poemas é um péssimo título