Imagem de Man Ray
.....Camaradas, escrevi esse poema no dia 14 de dezembro, a quatro anos atrás. No livro memórias à beira de um estopim ele vem germinado em outro poema, que em breve trarei para cá - ambos escritos no mesmo dia. Bom, não é segredo que estou a mais de quatro meses sem escrever um versinho que seja, então, para celebrar esse tempo passado, onde havia fartura, resolvi publicá-lo.
.....São, sem dúvida, tempos de vacas magras. No entanto, uns ventos bons sopram por aqui. Estou rascunhando um poema sobre a menina que foi trancada numa cela masculina, o caso de Abaetetuba, no Pará.
.....Essa história me assustou, com todos os seus contornos sádicos, com todas as opiniões sinceramente fascistas que vem despertando na imprensa, no seio de setores da sociedade abertamente repressivos. Tudo isso me chocou demais. É uma dessas coisas que nos tira o sono. Creio que o próximo post seja uma parte do poema, que tudo indica serão três!
.....Agradeço a todos as visitas, os comentários, o carinho! Abraços fraternos!
XLV
14/12/03
Beijos vãos em bocas pálidas
abrem em meu peito fendas e vãos.
Desejos plásticos, amores de cilício,
necessidades virtuais...
Beijos elétricos vão e vêm pelos fios óticos
num turbilhão de trojans:
vazam informações em um frio gozo,
milhares de bits escapam...
(Até que dure esse amor,
ou nos desconectemos para sempre
ou outro servidor, eu digo que te amo.)
Enquanto isso,
crianças virtuais aguardam,
armazenadas em discos rígidos,
até que tenhamos úteros sintéticos
ou as impressoras digam amém!
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