Dino Valls - la nave de los locos
O poeta trazia um chip escondido no corpo.
Aos 23 soube que era rastreado –
numa sala escura um monitor Toshiba
piscava uma luz verde que era ele:
se súbito virasse à esquerda
e corresse até o tênis acabar eles saberiam.
Mergulhar por dias em piscina, de escafandro,
ou enfiar o dedo na tomada não adiantava –
era a prova d’água, imune ao curto-circuito.
A luz continuaria piscando, indicando
aos agentes que ele estava onde estava.
Com a faca arrancá-lo seria em vão.
Outro seria posto no lugar do primeiro –
à noite, pelo pai; ou num ato violento por eles.
Novamente internado, voltaria
com a tecnologia re-implantada –
up grade da versão dois ponto zero,
mais moderna, com sinal via satélite.
2 – Fuga e outros movimentos
Certo dia, perseguido por todos,
desceu correndo os treze andares da CEF,
contando cuidadosamente cada degrau.
(Diante do impasse, quase voltou para conferir)
Os macacos em seu encalço
– mordendo o calcanhar do tênis Nike –
seria uma prévia de tantas outras perseguições.
(Análogas às exibidas na Sessão da Tarde)
Aquele era o momento de lamentar não ter fu-
gido com Rimbaud – companheiro de manicômio
onde trocavam figurinhas do time do Flamengo.
(Álbum Campeonato Brasileiro, 1989)
para Rodrigo de Souza Leão
(04/11/1965 - 02/07/2009)
1 – TOP SECRET
O poeta trazia um chip escondido no corpo.
Aos 23 soube que era rastreado –
numa sala escura um monitor Toshiba
piscava uma luz verde que era ele:
se súbito virasse à esquerda
e corresse até o tênis acabar eles saberiam.
Mergulhar por dias em piscina, de escafandro,
ou enfiar o dedo na tomada não adiantava –
era a prova d’água, imune ao curto-circuito.
A luz continuaria piscando, indicando
aos agentes que ele estava onde estava.
Com a faca arrancá-lo seria em vão.
Outro seria posto no lugar do primeiro –
à noite, pelo pai; ou num ato violento por eles.
Novamente internado, voltaria
com a tecnologia re-implantada –
up grade da versão dois ponto zero,
mais moderna, com sinal via satélite.
2 – Fuga e outros movimentos
Certo dia, perseguido por todos,
desceu correndo os treze andares da CEF,
contando cuidadosamente cada degrau.
(Diante do impasse, quase voltou para conferir)
Os macacos em seu encalço
– mordendo o calcanhar do tênis Nike –
seria uma prévia de tantas outras perseguições.
(Análogas às exibidas na Sessão da Tarde)
Aquele era o momento de lamentar não ter fu-
gido com Rimbaud – companheiro de manicômio
onde trocavam figurinhas do time do Flamengo.
(Álbum Campeonato Brasileiro, 1989)
3 – Necrológio
Acordou vinte anos depois
– ressaqueado de Haldol –
seu nome inscrito no obituário.
Levantou da cama
– a hora havia chegado –
e comunicou a todos que iria morrer.
Acordou vinte anos depois
– ressaqueado de Haldol –
seu nome inscrito no obituário.
Levantou da cama
– a hora havia chegado –
e comunicou a todos que iria morrer.
*
33 comentários:
e morreu_______ou nasceu a paz.
beijos
Muito bom, Rafael! "Necrológio" é de um acerto absurdo!
Em tempo, digo de acerto enquanto resolução das palavras e versos.
Sim, pq ele realmente se levantou e se despediu do mundo. É maluco pq é outro acerto.
Muito bom o poema. Merecida homenagem.
Bonito, sensível, preciso e verdadeiro...tanto quanto Ele. Um beijo!!!
Os poemas são exatos, Rafael, perfeitos, falam de Rodrigo. Mesmo se tê-lo visto pessoalmente, era fácil para mim entender o que se passava com ele. Uma barra. Numa hora dessas a gente gostaria de acreditar no paraíso.
Beijo pra você.
O Rodrigo já é eterno, Rafael. Seu poema homenagem atesta.
Abração.
olá poeta,bela homengem,sensível poema.Bom conhecer pessoa assim,que aumenta a nossa sensibilidade,né?Abração .livia
Belíssima homenagem a esse escritor que tão cedo nos deixou. Parabéns, poeta por sua arte. Beijo.
Bela crônica de uma vida incrível. Abraços!
olá rafael, sou amigo do cássio, ele e o ricardo wagner vieram num sarau aqui em bh e o cassio me contou como foi gratificante a ida e vcs ao rio, especialmente o papo com o rorigo. gostei muito do poema, achei cheio de sensibilidade. abraço, isaias
O Poeta chipado e o monitor Toshiba, os 13 andares da CEF e vinte anos depois comunicar o ato final: ações contemporâneas em 3 atos. Parece que vivemos assim. Comente "E agora?" - Faça como quiser - Abraço poético - Riodaqui/PauloViggu
http://br.myspace.com/pauloviggu
Muito tempo nao vinha aqui nesse blogger pq nao tinha muito animo nos ultimos meses... derrepente chego aqui e me deparo com esse poema... Um guerreiro se foi... é fato; a luta, continua.
oi Nolli, copiei esta homenagem e publiquei lá no meu espaço...
bjs
Bárbara
mano,
vou copiar e publicar no meu blog junto com os da coletânea.
braços do meu abraço.
Emocionada agradeço a você esse carinho pro nosso Rod que era o representante legal do carnho.. um beijo/ rosa
mutcho 10
caro amigo, que bela homenagem ao rodrigo!!!! você é genial!!!
um grande abraço
jorge
perfeito este poema:)
Tiago
, bela homenagem.
, estou aqui admirando seus poemas... poesia engajada que flerta com surreal, pelo menos para meus olhos...
, abraços meus.
RAfael,
Muito bom, vc tem uma consicencia impressionante para a escrita.
Sublime essa homenagem…
As pa l a v r a s que não deixam apagar as !magens
B E L O o branco no cinza e as linhas perfeitas até ao !nfinito
Adorei vaguear por aqu!
Descob®i o teu blog lá no poema – O TROGLODITA DOS PANTANOS…dedicatória do Chico …
parabéns… imenso beijinho
Nolli,
estou aqui tb sou solidária ao poeta , soube atrav´s do Cássio.
Tb me atuaLizei na sua escreita
beijos
rafael, muito obrigado pela visita. vc me parece uma pessoa muito boa,admiro isso também no cássio. quano ele vier em bh, apareça p batermos papo e tomarmos umas biritas. valeu!
é sempre emocionante lembrar do Rodrigo...é sempre bom ler poemas teus... = adorei! ;)
poema à altura do homenageado. e mesmo desconhecendo o Rodrigo, o poema consegue ser grande. parabéns
Não sei nada da sua história,da história do homenageado,mais sei o que li,e gostei.
parece fictício, mas é a pura realidade, redesenhada em belos poemas.
parabéns, Nolli, pela sutileza e sensibilidade no trato com as palavras, que versejam os fatos com exata leveza: a necessária para o equilíbrio entre o caos interior e a coerência.
não era amiga íntima do Rodrigo, apenas o conhecia de grupos literários ao qual pertencíamos, mas acompanhava seu trabalho de perto, especialmente a poesia.
a morte foi quem me revelou o ser humano incrível, através dos relatos de amigos, das inúmeras homenagens [inclusive participei de uma, na Casa das Rosas] e do evidente buraco que ficou no espaço que era dele. e só dele.
obrigadão, por me indicar esta leitura :))
beijo!
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