segunda-feira, 16 de abril de 2012

Os filhos de Oppenheimer

Oppenheimer e General Leslie Groves

Ele apertava parafusos. Não havia uma finalidade clara nisso. Seu princípio e fim estava ligado a faculdade prática de apertá-los. Assim como havia aquele que de longe – prancheta era seu instrumento – contemplava seu afazer, havia aquele que anteriormente colhera o metal nas montanhas, havia aquele que o derretia e aquele que sulcava em hélice seu corpo metálico, finalizando-o. Eles mesmos, enquanto homens, foram colhidos nas montanhas, retirados do barro, moldados e cozidos por outros operários que desconheciam o fruto de sua labuta.
O que faziam do material anônimo que ele crivava de parafusos? Nunca se perguntara se o preenchiam de alma, se o dotavam de utilidade: atarraxava com suas mãos-aptas-à-chave-inglesa e pronto. Sequer cogitara a origem daquela peça anteriormente moldadas por outros como ele, que também não deixavam marca alguma no produto fabricado. Eram alienados, sobretudo, por não conhecerem a pergunta para a resposta que possuíam.
(Um dia juntaram todos no pátio, apertaram um botão vermelho em algum lugar distante e pulverizaram tudoenorme cogumelo fazendo sombra sobre o cadáver da fábrica. E morreram felizes para sempre.)
The end.




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Um comentário:

Adriana Godoy disse...

Nolli, um texto tão pequeno que remete à filosofia. Um texto forte, bélico e belo, Beijo