Quisera me
matar por nada . Era o seu prazer dizer
vou te matar .
Adorava explicar como
estrangularia – ornava as palavras com gestos expressivos ,
usando as duas mãos que
possuíam calos de punheta e canivete . Os dedos
se retorciam como as raízes de um mangue , enquanto a boca
torta defecava palavras empoeiradas. Vinha de seu âmago o ódio que lhe tomava
as rédeas da razão ,
que já
era pouca
e epiléptica . O seu
vou te matar ,
nascia quase no intestino
grosso e subia, emporcalhando de merda o
corpo acima
– se tornando pedra na subida severina; feria as paredes
da garganta e arranhava o esmalte dos dentes : nasalava sua voz ao sair-lhe pelas ventas , deixando seus
dizeres quase
engraçados – se não fossem trágicos.
Estava lá ,
diante de mim ,
seu dedo
espichado e retorcido. Caranguejos
passeavam debaixo da unha , que quase tocava meu
nariz, coreografavam um balé ridículo , em marcha ré.
E era por nada , todo aquele ódio .
Vou te matar
e pronto . Não
iria roubar relógio ,
bater carteira ,
sequestrar mãe , sodomizar
as irmãs, mijar nos
pôsteres na parede .
A ameaça era certeira e precisa .
Quando se distanciava um pouco de seu objetivo ,
dizendo em volteios
sua ira ,
essa se abrandava em meio a um vocabulário reduzido de expressões
atômicas: as palavras tornavam-se
turvas, desprovidas de analogia – mas sabido como era , logo voltava a frisar seu intento e evocar a morte em carne e osso como companheira de empreitada .
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