Para o ministro Ricardo Salles
1
está à venda a floresta
ou o que dela ainda resta:
é tanto verde, que enoja:
melhor a monocultura da soja
onde há uma tribo indígena
a pecuária extensiva
bichos, rios, biodiversidade
troca-se por pasto, garimpo,
cidade
para isso não falta partidário
lugar de índio é na foto do
calendário
2
posseiro, grileiro, garimpeiro
não convém mexer nesse
vespeiro
o agro é pop, o agro é tudo
o agro transforma a mata em
latifúndio
agente laranja, glifosfato,
mercúrio
tornar legal o que é espúrio
caatinga, amazônia, cerrado,
pantanal
melhor um pasto ou um canavial
3
mesmo
o que era protegido
–
por lei, por decreto – está ameaçado
mesmo
o que havia de mais raro
– culturas,
plantas, povos – virou um alvo
mesmo
o que tínhamos de mais caro
– água,
biodiversidade – é desprezado
mesmo
o que tínhamos de mais farto
– e
o farto não nos faltava – se torna escasso
4
mais
poderosa que a motosserra
a floresta
se derruba em uma canetada
mais
poderosa que os tratores
a floresta
se mata em uma canetada
mais
poderosa que as dragas
a floresta
se esvai em uma canetada
mais
poderosa que as correntes de arrastão
a
floresta se extingue em uma canetada
enquanto
isso, diante de nossos olhos
segue
passando a boiada
5
Da floresta
é importante dizer a verdade:
Mais
da metade, já virou saudade
Da floresta
é importante dizer a verdade
Mais
da metade já virou lembrança
Da floresta
é importante dizer a verdade
Da
metade extinta, brotará a outra metade
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