Anatomia de um rio - l rafael nolli
Às margens desse rio asfixiado
habitado pela merda expelida das casas
e o ácido excedente das indústrias
homens pararam por um instante –
testemunharam seus reflexos no espelho;
outros
velaram toda uma noite atrás de um peixe.
Nessas águas espessas
violentadas pelo óleo das auto-estradas
oprimidas pelo caldo dos bueiros
mulheres lavaram a roupa e as mágoas;
outras se aliaram ao corpo do rio
para ajudar as flores a resistirem ao inverno
e os tomates a se rebelarem contra a seca.
Às margens desse rio viciado
picado pela agulha dos hospitais
assaltado pela indigestão dos restaurantes
meninos caçaram animais que por ali se aventuravam
ou simplesmente ficaram ao vento –
que tinha o cheiro apenas do campo que percorria.
*
M C Escher |
www.rafaelnolli.blosgpot.com
*
21 comentários:
Realmente uma belíssima ilustração. Gostei. Um abraço.
Linda ilustração.
Gostei de vir conhecer esse espaço.
JU
Muito bons, poema e ilustração. Também ando mordida de poluição e fim de mundo - que afinal podia ser tão bom de viver :(
Resta a bela imagem e o poema melhor ainda!
maria
gostei da visita!
volte sempre!
abraço
Ando com a alma guardada na montanha. Ando pela cidade, vez em quando, veloz. A saudade é a mesma. Abraço - Paulo Viggu
"picado pela agulha de um rio" é a parte que mais gosto, ainda que triste e densa.É um rio morto, reflexo da cidade, pena.Muito bom poema, descrito com a metáfora da agonia.
http://anndixson.blogspot.com
OLÁ rAfael,faz tempo!Vida virtual é um ir e vir.Mas nunca esquecendo dos blogs de fundo e conteúdo.Apreciando este poema denso,a falar de uma realidade angustiante.Denunciar para que um dia acordemos dessa nossa pasmaceira suicida.Entre o amor e a dor...resta-nos os poemas.abraço.liv
Tua poética é bela, querido!
é verdadeira.
Um beijO!
Agora assim, voltei para ficar! Estava morrendo de saudades daqui! Mesmo com o trabalho paralelo, meias férias, folgas e preparativos para outra viagem/carnaval, vou arrumar um tempo pra vir te bisbilhotar e postar minhas terapias, filmes, as novidades da Bahia e outras coisas! Adorei te ver! Seu blog continua um show!
Beijos e boa semana!
Francine
os costumes da sociedade nessa anatomia...
valeu!
Um retrato bem atual meu caro. Onde o capitalismo toma conta de tudo Nolli. Onde as transnacionais dominam e sabemos porquê.
O que acho interessante na sua escrita é sua inteligência aguçada e sua alma bem inteirada do contexto que vivemos.
Um abraço. E vamos em frente!
Cadê tu, Nolli? Tirou férias? Abração
Caro Rafael, alguns links simplesmente sumiram de meu blog, inclusive o seu. Mas logo ele retornará. Cara, tinha perdido aquelas perguntas que você me enviou sobre artes plásticas na net, mas também já achei e breve te mandarei as respostas, tá bom? Um grande abraço.
Retribuir à visita agradou muito meus olhos. Imagem e sua ligação com o poema muito bem feitos.
Obrigado pela visita;
abraço!
Olá meu caro!
aqui te visitando, lendo tua poesia.
Uma pena perder o conto, se tinha
a mesma qualidade da poesia, trate de encontrar. (brincando).
Essa temática social e magnífica,
nao se trata de versos tolos.
Parabéns!
Um grande abraço a ti.
daufen bach.
Olá, Rafael!
Vim agradecer a sua visita no meu blog e tb as palavras, tão simpáticas, a minha tradução e tb ao meu poema.
Muito obrigada!
Adorei o seu espaço e tb a maneira como se expressa.
Belíssima poesia!
Realidade nua e crua! Parabéns!
Um agrande abraço.
Patrícia Lara
Poema forte, preciso, intenso. Especialmente estes versos:"meninos caçaram animais que por ali se aventuravam
ou simplesmente ficaram ao vento –
que não tinha o cheiro senão do campo que percorria." Gostei muito.
OI, RAFAEL, NESSE POEMA ME ENCONTRO, pois sou apaixonada pelo rio que inundou minha infância de beleza e que foi asfixiado e degolado:
"Que consolo me dá o Reno
Mosela ou mesmo o Danúbio,
se meu Paraíba morreu?
Rasgaram suas entranhas
cortaram sua cabeça.
sufocaram seu desaguar!
esquartejado ficou!"
O assunto vale bem uma blogagem coletiva, EM DEFESA DOS RIOS com desdobramentos.
Abraços
A imagem parece uma fatídica carta de tarô. Maravilhosa!
E seus versos retratam, uma vez mais e com a costumeira originalidade, uma realidade lamentável.
Excelente postagem!
Engraçado, Nolli! Também tive um conto que se perdeu, embora tenha me rendido uns trocados num concurso, não tenho a mínima ideia se existe algum vestígio deste conto! Espero que não! A propósito, o Hugo tem sempre umas sacadas bacanas! Admiro o trabalho de vcs! Excelente Poema!!!
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