foto: O Caracol - Rafael Nolli
Senhor,
o poema exige prudência.
Prudência.
Prudência. Prudência.
Mulheres
tremem ao imaginá-lo
&
homens se contorcem de medo.
Se
enfurecem por você. Por você são
capazes
de tudo, com fúria, com ira.
Não
os quero diante de minha casa
ou
sobre mim, com suas tochas.
Prudência
para não despertá-los
ajoelhados
na primeira fila –
bebendo
a palavra mastigada, encharcada,
espessa como a baba de um condenado.
espessa como a baba de um condenado.
2
A
palavra em si trás o equívoco.
A
tradução: uma sucessão de equívocos.
Abades
que se excederam no vinho &
se
distraíram com ilustrações proibidas;
poetas
pequenos, insignificantes,
maus
tradutores a serviço do estado.
Para
cada povo a palavra tem um peso.
Cada
uma, sua carga. Nada nos diz algumas:
estão
na boca diariamente, já sem sabor,
como
chiclete repetidamente mastigado.
Algumas
não entendemos.
Outras,
nossa compreensão estraga.
Estão
feridas, cobertas de pus,
muitas
sequer foram germinadas.
O
equívoco (talvez!) resida no fato de
nenhuma
ter saído de sua boca.
Gritam,
na rua, em seu nome,
algumas
que você sequer conheceu.
3
Quando
criança, seu nome pichado no muro –
em
neon reluzente, gritando na face das igrejas.
Quando
criança, sua marca na lousa,
em
adesivos no vidro traseiro dos carros.
Quando
criança, sua palavra no rádio,
no
pára-choque de pesados caminhões.
Quando
criança, sua imagem no quadro:
no
quarto de minha avó, um pouco vesgo.
Lembrava
um dos generais de Hitler
ou um
modelo das propagandas de cigarro.
4
Um
homem melhor do que eu.
Melhor
do que a maioria de nós.
(O
que não é grande coisa
nem
fato de extraordinária façanha)
Um
homem, ouso dizer. Apenas isso.
Prudência,
o poema exige. E me calo.
___
* Camaradas, esse poema inédito é o primeiro de meu novo livro. Dei por encerrado o Comerciais de Metralhadora, que ficará na gaveta com metade dos poemas inéditos, aguardando alguma chance real de ser publicado.
News:
* A Revista Diversos Afins completa quatro anos! Acompanho mensalmente a Diversos e tive o prazer de ter um poema nessa edição comemorativa! Sinto-me orgulhoso de fazer parte dessa história! Só me resta agradecer aos amigos Fabrício Brandão e Leila Andrade!
Quadragésima sexta leva – especial de aniversário (4 anos): CLIQUE AQUI
* Aliás, também estou na edição comemorativa de dois anos, vale à pena conferir, com certeza:
Vigésima quinta leva – especial de aniversário: CLIQUE AQUI
*
18 comentários:
Querido amigo,
Obrigado por estar conosco nos 4 anos da Diversos Afins. Tua expressão poética nos ajudou a trilhar a longa estrada chamada cultura.
Abraços de gratidão!
e te calas.
E o filho do deus (sem d maiúsculo) te agradece!
deuses somos nós todos. e todos somos o filho do deus!
grande abraço
jorge
Ducaralhaço Nolli.
Abração.
Porra, Nolli. Gostei demais. Dá uma sensação estranha e forte. Beijo
muito, muito, muito, muito bom!
a gente fica com a respiração suspensa, sem fôlego.
amei.
como sei que vc não se chateia, eu faria uma única observação/mudança: ajeitava a pessoa verbal toda para a terceira. no primeiro poema, vc muda subitamente para a segunda e depois, volta para a terceira.
se ficar tudo na terceira, o tom maior de intimidade, você em vez de tu, aumenta ainda mais o impacto do poema.
mas isso sou eu, né? ;)
parabéns, Lucas( eu termino sempre lhe chamando de Lucas rsrs) e um beijo daqui.
Tem toda a razão, Márcia! Fico feliz com as suas observações. Eu nem me dei conta de toda essa confusão! Já deixei tudo redondinho. Sei que não é justificativa, mas trata-se de um caso especial. Esse poema eu o escrevi e lancei imediatamente no blog pois sabia que se fizesse mais uma leitura dificilmente teria coragem de publicá-lo. Nunca faço isso. Sempre escrevo e deixo o poema na geladeira, vou lê-lo um mês depois, modificar isso ou aquilo, jogar fora ou publicar - esse eu não pensei duas vezes, foi direto. Abraços e obrigado pelas observações!
"Para cada povo a palavra tem um peso.
Cada uma, sua carga – nada nos diz algumas"
massa o poema todo rafael. massa mesmo. vou querer o livro quando lançares. abraço meu amigo.
Rafael, há quanto tempo..vejo que seus poemas continuam transbordando qualidade, gostei da amostra do livro...Quanto a Deus, bem, as pessoas têm invocado tanto seu nome em vão que acho que o Senhor às vezes se finge de surdo...rs A última foi do Kaká, fazendo campanha contra as prostitutas com a camisa da Seleção,tomara que Maria Madalena não o veja , nem os fariseus que sempre atiram a primeira pedra. Beijo grande, saudades!
Fortíssimo, Nolli.
Assim que o livro sair, avisa, tá?
Beijo.
Rafael,
Acho tão difícil fazer poema longo, vc consegue isso com maestria...obrigado pela força lá no meu blog.
Poema muito bom mesmo! Crítica pertinente e cheia de sentidos! Abraços.
Olá Rafael, parabéns pelas conquistas, devidamente merecidas, textos sempre inteligentes, falta muito disso por aí.
Seu poema tem o peso certo em cada frase, palavras que trazem pura realidade.
Parabéns novamente!
Pra escrever assim tem que ter muita sensação boa no peito.
Estamos seguindo também.
Que seu dia seja de luz.
Rebeca
-
uau mto bom cara! de arrepiar
Olá Rafael,
gostei mto.... mesmo mto como sempre a tua originalidade e talento deixam um sabor único seja qual fôr o assunto....
...
ADOREI
beijinhos
arrazou hein! rsrs
flws rafa
Achei o seu texto muito bem composto.
Um forte abraço, amigo!
Poesia é milagre que não cura, mas alivia, né Rafael?... O céu e a terra passarão. A poesia, nunca. Jamais. Não.
Poema forte, instigante.
Bjs, poeta, e inté!
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