domingo, 30 de julho de 2017

Prosa Poética




um chapéu azul pousado na coifa
                 no meio da mesa esquerda



 

Se eu dissesse Quarto, mesmo que o texto a seguir viesse com uma retórica extensa sobre o assunto, ainda ñ entraria na mente das pessoas esse objeto Quarto: pequena palavra isenta de cadeira, cama & computador. Ainda que impregnasse as frases de metáforas salientes, ñ caberia na seca palavra Quarto o sentido que sustento sem sucesso: e que é de fato o Quarto que quero dizer ao escrever a pobre palavra Quarto.

A sublime silhueta desse cômodo ñ se espelha na elegância singela do Q, na volta córnea do U, no desáiner totêmico do A; ñ se espalha na postura perversa do R, no corte duro, quase simbólico, do T, no redondo marcial, eterno, do O...

O aspecto sensível da palavra Quarto, espécime de cardiograma de ladrão perante o cão raivoso, desenho de serra q se finda em mata selvagemou descampado vastíssimo – ñ recobre o substantivo das curvas certas & das retas necessárias que remetam quem ao aposento Quarto in extremis ou de profunddis...

Mesmo que a ceife em letras & espalhe por esses fragmentos intensos relatos de profundidade, arquitetura & aerodinâmica, ainda assim dizer Quarto seria o mesmo que dizer um palavrão, uma palavrinha, uma única & solteira letra-soldado, excluída de seu exércitoou ñ dizer merda nenhuma.

Mesmo que triture letra por letra & crave em seu lombo cada curva de teto, cada trecho de sina transcorrida entre quatro paredes & um guarda-roupa, ainda assim o que sairá serão letras impregnadas da intenção de levar a mente do leitor a certo cômodo onde se convencionou dormir,

  fazer amor &

   cochichar os que amanhã acordarão mortos.

Ainda q grite Quarto!, alguém há d ouviralguém mais distanteQuanto?, Quatro?, Fato?, Ato?, Ô?, & responder:

“Acho q sim!” ou “Talvez ñ!” & fique o dito pelo ñ dito.

 

Nunca exija d um poeta versos d amor!

 







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