Há
um chapéu
azul pousado na coifa
no meio da mesa
esquerda
Se eu
dissesse Quarto, mesmo
que o texto a seguir
viesse com uma retórica
extensa sobre
o assunto, ainda
ñ entraria na mente das pessoas esse objeto Quarto: pequena palavra
isenta de cadeira,
cama & computador.
Ainda que impregnasse as frases de metáforas
salientes, ñ caberia na seca palavra Quarto o sentido que sustento sem sucesso: e
que é de fato o Quarto
que quero dizer ao escrever
a pobre palavra
Quarto.
A sublime
silhueta desse cômodo
ñ se espelha na elegância singela do Q, na volta
córnea do U, no desáiner totêmico do A; ñ se espalha na postura perversa
do R, no corte
duro, quase
simbólico, do T, no redondo marcial,
eterno, do O...
O aspecto
sensível da palavra
Quarto, espécime
de cardiograma de ladrão
perante o cão
raivoso, desenho de serra
q se finda em mata
selvagem – ou
descampado vastíssimo – ñ recobre o substantivo das curvas
certas & das retas
necessárias que remetam quem lê ao aposento Quarto in extremis ou
de profunddis...
Mesmo que a ceife em letras & espalhe por
esses fragmentos
intensos relatos de profundidade,
arquitetura & aerodinâmica,
ainda assim
dizer Quarto seria o mesmo que dizer um palavrão, uma palavrinha,
uma única & solteira
letra-soldado, excluída de seu exército – ou ñ
dizer merda nenhuma.
Mesmo que triture letra por letra &
crave em seu
lombo cada
curva de teto,
cada trecho de
sina transcorrida entre
quatro paredes
& um guarda-roupa,
ainda assim
o que sairá serão letras
impregnadas da intenção de levar a mente do
leitor a certo cômodo onde se convencionou dormir,
fazer amor &
cochichar
os que amanhã
acordarão mortos.
Ainda q grite Quarto!, alguém
há d ouvir – alguém
mais distante
– Quanto?, Quatro?,
Fato?, Ato?,
Ô?, & responder:
“Acho q sim!”
ou “Talvez ñ!” & fique o dito pelo ñ dito.
Nunca exija d um poeta versos d amor!
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