Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos
minha triste irmã
Álvares de Azevedo
1.
o
amigo
(se
eu morresse amanhã)
com
seus versos chorosos
tentará
encher um livro de lamentos
o
fracasso
– sócio
fiel dos poetas –
o
assolará, pondo fim a inspiração:
o livro ficará meio cheio
ou
meio vazio?
2.
os companheiros
de bar
– um
pouco menos que amigos –
(se
eu morresse amanhã)
tentarão
esvaziar uma garrafa
– do
que há de mais forte –
mas a
vida
–
com as suas urgências –
ou a
embriaguês
– com
seus caprichos –
os levará
antes à lona:
a
garrafa ficará meio cheia
ou
meio vazia?
3.
o
pedreiro
que contraíra
as suas dívidas
(se
eu morresse amanhã)
não
poderá contar com a grana
– a segunda
parcela de três –
logo,
outro telhado precisará de reparos
e
ele seguirá sua sina
esse
telhado, meio consertado
(se
eu morresse amanhã)
será
problema de um novo inquilino
4.
o
gato
pouco
ligará
(se
eu morresse amanhã)
contando
que outro dono
–
outra mão, mais precisamente –
venha
lhe reabastecer o pote de ração
(sempre
meio vazio)
água
não lhe importa:
beberá
–
como de costume –
na privada
5.
a
amada
(se
eu morresse amanhã)
depois
do luto
há
de se virar
– o
tempo tudo remedia! –
e preencherá de novo o coração
desde
sempre
meio
vazio
20/11/18
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