segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Ars poetica


Não tenho voz de queixa pessoal, não sou
um homem destroçado vagueando na praia.
                                Drummond

por certo não sou digno da poesia
é o que se comenta
nos pequenos círculos

não comi a flor de lótus
tampouco sai às ruas chapado de rivotril

também disso estou certo
– eles o dizem, por que duvidar –
não evitei o amor
 essa grande balela

sequer morri de tuberculose
(nos corredores de uma biblioteca)

é o que se comenta
quem sou eu para duvidar

não me matei (ou matei alguém)
pelas palavras – ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência a vossa, etc & tal –
muito menos tive a Grande Visão

não vendi armas ao rei da Abissínia
ou cruzei o país
– vagabundo em um vagão –
no encalço do Sublime[1]




[1] Nota de rodapé para Ars Poetica

não fui à floresta / comer o verme na carcaça dos pássaros / não sei o gosto da solidão / bebida entre as montanhas / o sabor da solidão às margens de um lago não catalogado / No encalço do sublime, eles diziam // para se escrever poesia / você deve ir ao encalço do sublime // Não fui

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