segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Fragmento Retirado de Uma carta Falsa

foto de Leila Lopes


Para Wewerton (Caim)

Quem virá me salvar? Quando? Y como? As preces se perdem: o deus-cavalo saxão ñ compreende minhas psicopatologias: quem vem, herói ou vilão, Jesus ou Judas, reerguer-me da briga q se arrasta pelas ruas y q tem sido a minha vida: quem vem, y como, levantar-me d uma queda q se eterniza no impacto com o chão: levantar-me d um tombo fatal, sistêmico: caio, cai minha sanidade, caio, despenca meu juízo – pensei, ontem, em dizer uma palavra mágica, q guardo há muito, q destruiria todas as coisas (voaria antes, eu vislumbrei isso, como o Enola Gay voou [em seu útero um ovo] por sobre as cabeças sem chapéu dos homens); pensei ontem, verbo mágico se debatendo em meus dentes em cela, q essa palavra seria ouvida nos manicômios como um chamado insano à realidade (isso se denomina poesia!): quem? como? onde? virá, se é q se pode, se é q se efetiva, destituir-me d minha dor, levá-la d mim? (Aborto para o lixo; mentira ao coração; ódio aos q vivem em cólera [levá-la como se leva o rosto ao soco, como se lava o sangue das mãos após a carícia dos estúpidos: como se conduz às vísceras o cabo da faca...]). Por um instante, antes d o apocalipse deflagrar, escuto um fallen angel executando um solo d trombeta numa flor d beladona: quem poderá, tira, bandido, Montechio ou Capuleto, dos Elíseos ou dos umbrais, separar-me d meu medo, desencravá-lo d mim? – adestrá-lo, deixá-lo dócil como um lobotomizado a passear sem poder algum em meio aos meus pensamentos sem q os transfigure em verde, sem q os potencialize em dor y os converta em dúvida? Como y quem?



*

15 comentários:

Leila Andrade disse...

Quem cairá tão fundo
a ponto de nos nos libertar das correntes enferrujadas?
Nolli, sua palavra forte nos fala e profunda nos salva de tropeços em nossos cantos escuros.
Feliz pela parceria.
Beijão.

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Rafael, bom encontrar outra foto-passagem da Leiluka por aqui, dialogando com tuas palavras... Sim, quem poderá ver além do vazio, e vislumbrar a doçura possível, por detrás de toda aspereza e brutalidade do mundo?...
Abraços alados azuis.

ANDRÉ FERRER disse...

Vertigem de imagens. Passei no teu Orkut e vim conferir. O Cassio tem visitado meu blog (networking...). O do Sonnen. Deixe um comentário no http://blogdoandreferrer.zip.net/

Grato

André Ferrer

Priscila Manhães disse...

Forte isso, Rafael.
E eu gosto de escritos assim. Muito bom.

Tem um poema da Margaret Atwood que fala sobre essa palavra, que tem o poder de proteger da dor e do medo.

E um dos epítetos de Dionísio é: Libertador. Que ele te liberte e te proteja. A liberdade de Dionísio é uma delícia, porque tem muita alegria. :)

Um beijo.

Fabrício Brandão disse...

Teu texto é atemporal, meu caro, por mais que finjamos perenes calmarias. E essa busca é pelo algo redentor de nossas misérias entulhadas entre mistérios e segredos. Quiçá seja a poesia com seu olhar diferenciado a nos socorrer? Sim. Creio nisso, pois o que nos tem faltado é vestir os olhos com percepções mais sensíveis se si e do outro.

Abração! É sempre um prazer vir aqui em tuas firmes paragens literárias!!

Anônimo disse...

Rafael.
Todos os dias. Todos. Penso em palavras mágicas. Verbos que me façam voar.
Todo o tempo...

Grazzi Yatña disse...

Penso no afeto que admite silêncio.

Gostei do seu texto cheio de magia!

celia.musilli disse...

às vezes, a gente se identifica muito com os "tombos sistêmicos" da humanidade.. estes questionamentos pertencem a todos nós.. um beijo

Anônimo disse...

olá Rafel,passando para matar saudades.Sumi mas ...volto sempre...Abraçao.

Anônimo disse...

Como e quem vai se apossar de nós arrancando todas as perguntas e cravando respostas como Enola Gay gravou desgraçadamente vidas e mais vidas para todo o sempre?
Que verbo usar designando espanto?
Aplaudo seu canto, de pé!
beijos

Marcos Carvalho Lopes disse...

Cara, tenho um blog fantasma (www.sarma.zip.net)...faz tempo que nem me lembrava dele...aí vi um filme legal do Kim Ki-duk e resolvi escrever uma dessas mensagens que se joga no mar. Aí surgiu um comentário. Só um... e acabei nesse blog. Olhei a primeira vez y... voltei. Agora escrevi: pra dizer que passei por aqui e li... Bem legal! Já assistiu o filme? Inté

dade amorim disse...

Rafael, esse texto-poema me fala dos soldados que se mataram no Iraque. Mas não só: ele fala também de todos os medos insuportáveis de que a humanidade sofre. Um grande abraço.

Sônia Marini disse...

Muito bom!Um grito de muitas vozes. Visceral, forte... amei.
beijos

Anônimo disse...

Rfael,aparecendo.ando sumida.Deixo meu abraço saudoso.Texto denso.Questoes eterna da angústia humana.O medo é um instinto primitivo que tem sua importancia para a sobrevivencia do grupo e specie,a questao e o medo manipulado pelo sistema.Que nos enrosca,atola numa obediencia morna,na segurança mediocre nas certezas incertas já que a vida é inquieta e quer ser ousada.mas...a ordem é cada macaco no seu galho!Bolas!este medo é artificial...Temos medo do mundo com suas regras injustas,sua violencia implicita e explicita,temos medo da nao aceitaçao,do ser diferente,temos medo da solidão por isso preferimo as tribos,o grupo,o clube,a familia(e isto nem sempre é protção)...vencer o nosso medo é ajudar a contruir uma vida melhor pois esta que repetimos como obra acabada geme de pavor de mudanças e no entanto nao se suporta.Medo..palavrinha esquzofrenica.Beijão.

Héber Sales disse...

eu não sei, não,
mas desconfio que há esse medo
de apenas ser humano,
da vertigem de subir aos céus
escoltado por infernais.

e achei esse texto diferente,
Nolli, na forma, né?
incorporando essa coisa da internet,
se se abreviar as coisas,
do atropelo, que é mesmo coisa
de quem fala do medo.

gostei.

aquele abraço!