sábado, 19 de outubro de 2019

Solidão

o homem na loja de conveniência
diante do freezer

(mais nada precisa ser dito:
sabemos que está de pijama
ou, pelo menos – percebe-se –
está com a roupa de dormir;

mais nada precisa ser dito:
escolhe – são duas ou três da madrugada –
o seu jantar: retira um enlatado
[confere a data de validade: faz uma careta
na certeza de não estar sendo observado])

de vez em quando
quando coça a cabeça
demonstra a dúvida que perpassa:
é tarde, a manhã já se insinua
que pesado, comer massa – ele pensa
e a cerveja, como está cara! – balança a cabeça

de qualquer forma
a forma com que vasculha as prateleiras
diz muito sobre ele: a palavra solidão
– ou uma que se assemelhe a ela –
deveria ser escrita nesse poema em alguma parte

(mais nada precisa ser dito:
o homem na loja de conveniência
diante do freezer
[são duas ou três da madrugada])


rafael nolli
17/10/19
11h08

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