Não
tenho fotos de quando eu era criança.
Talvez
ainda exista algum foto da adolescência
esquecida
dentro das gavetas da cômoda
ou
perdida nas página de um livro.
Porém,
não há nada nessas fotos da adolescência
–
nada mesmo – que possa me interessar.
O
que se vê, nesses registros da juventude –
são
espinhas, que me envergonhavam
e
um nariz torto, que era maior do que devia.
Não
há como negar, no entanto, que sou eu
em
uma versão inacabada, quase pronta;
Não
há como negar, no entanto, que sou eu
(naquela
foto) lutando contra as espinhas
e
sendo derrotado por uma porção de hormônios.
Dos
tempos de criança, nenhuma foto;
nem
uma única foto!
Todas
que consulto, é outra criança que se revela:
pequena,
rechonchuda, com um sorriso na cara.
Em
uma fotografia tirada na porta da casa de meus pais
–
por exemplo –
se
vê um menino segurando uma bola de plástico
vestindo
uma camisa do Flamengo (modelo 1982)
quase
com o umbigo de fora.
Definitivamente
– não há dúvidas – não sou eu:
não
tenho intimidade com a bola
(nasci
com dois pés esquerdos)
e
por nada nesse mundo – nada mesmo –
torceria
para um time de futebol
(muito
menos posaria com o umbigo quase de fora).
Que
criança é aquela, suja de tanto brincar?
Ela
tem o meu nome e talvez algum traço
–
os olhos quem sabe, quem sabe a boca –
são
bem parecidos com os meus traços atuais.
Mas
isso pode ser uma simples coincidência
e
as crianças – não restam dúvidas –
brancas,
de classe média, privilegiadas
são
sempre meio parecidas nessa fase.
Mesmo
essa foto, no álbum que minha mãe preserva
(com
a data precisa escrita a lápis em seu verso: 1982)
não
é uma foto minha de quando eu era criança.
Que
criança é aquela, então?
Araxá, 12 de Outubro de 2019
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