sexta-feira, 2 de maio de 2008
A Casa
A casa
Dos homens que a ergueram
não restam sequer testemunhas:
um pó de memória que seca a garganta.
De como retiraram o barro das distâncias
e o emularam em célula não restou a sujeira
nas roupas ou o câncer que os consumiu.
De como em fornos cozinharam os miolos
e o caldo das montanhas, nada sobrou:
talvez uma cratera que junte água salobra
ou uma ficha em arquivo de manicômio.
De como chegavam em casa –
felizes por ainda terem os dentes na boca –
nada se sabe. Se há quem o recorde,
não há de dizer algo que valha.
De como suportavam as horas
tendo um copo de lágrima
e um cão para lamber as feridas das mãos
coisa alguma se relata –
ninguém anotou nada em lugar nenhum.
Por certo, os filhos dos que a ergueram
virão derrubá-la.
Disso, todos são testemunhas.
*
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11 comentários:
Preciso brother.
Foto e versos no tom certo.
Abração.
Nossa, estou surpreso. Pra falar a verdade ao dar uma olhada superficial pelas imagens e pelo seu blog anterior pensei muito se leria algo ou não, mas fui surpreendido, e confesso: coisa rara na poesia atual. Realista, exata, poética e contemplativa. Poderia discorrer um ensaio sobre este único poema, mas prefiro aguardar a chegada do livro. Um abraço Rafael.
Sabe que às vezes eu me incomodo com a falta de sensibilidade das gerações que simplesmente 'se livram' de patrimônios por conta da mesquinharia? São poucos os que dão valor merecido às coisas que foram construídas e vividas com sacrifício, suor e lágrimas!
Beijos.
;)
dos pais só os filhos. E uma tentativa desesperada de fazer algo.. nem que seja desfazendo tudo. Um abraço (muito bom o poema! parabéns!)
Um belo poema e uma triste realidade. Boa tarde amigo.
Poema forte!
A poesia muda dessa casa e dessa gente você anotou.
Bj grande!
Um belo poema, amigo!
Um abraço.
Me lembrou 'saudosa maloca', que é uma música que sempre me emociona muito (já ouviu na voz de Elis?). Talvez por essa mistura de construção com suor, história de vida e de luta.
Me emociona muito... lembranças de vida, essas coisas.
Um beijO!
Nolli,
a tragetória humana, e a incertza do que nossos filhos poderão ter , fazer ou agir......
Vim aqui me atualizar nas suas palavras
beijo
e me lembrou de Construção, do Chico..."Ergueu no patamar quatro paredes sólidas,tijolo com tijolo num desenho mágico,seus olhos embotados de cimento e lágrima..."
Foto e a A Casa dizem muito...
bjks
Gostei bastante! Abraço!
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